Existem aqueles malfadados dias
Em que o silêncio é capaz de remover montanhas,
E ainda que tentasse a voz por teimosias:
Não se expressa, não se diz, e não se explica.
Existem aquelas malfadadas horas,
Lentas horas, a ver um *Kafka por entre as palhas,
A ver um céu de etiquetas e roupas caras
Ou navegar
Por mares industriais.
Residem aquelas malfadadas decisões
Em minutos roubados que nos levam clarões,
Deixando o breu, o escuro, o intruso,
Tomar a rédea de nossas fracas ações.
Existem aqueles malfadados dias
Em que se busca, se almeja, e se quer a morte,
Quando no fundo só se quer mudar a própria sorte,
Quando no raso:
Só queríamos ver os campos; e o Forte.
...
Existem aqueles malfadados dias
Em que o nada se expressa através do nada,
Em que o nada se diz por entre a palha,
E o nada se explica:
Nada.
Ao som valioso do nada.
* Franz Kafka – Autor de “Um Artista da Fome”