(Inspirado na poesia “E agora José?” de Carlos Drummond de Andrade)
Larga essa faca João!
Vai cortar o quê?
Os pulsos?
A cara?
E deixar teu inimigo na solidão?!
Larga essa faca João!
O banco aumentará os juros
A televisão falará o que quiser
O programa social vai ser de fachada
O bandido seguirá roubando
E tua música não será mais tocada...
Toca não.
Larga essa faca João!
Os poetas serão tantos que serão nenhum
O teu time continuará na última divisão
O medo passará fiel de mão em mão
E o teu fim desastroso
Não muda nada...
Muda não.
Larga essa faca João!
Vivo você ainda pode tentar,
Talvez você não consiga mudar,
Mas lá de cima, orgulhoso, você dirá:
Sou formiga e tentei!
(Mas antes, velhinho, ainda perguntarás: E agora João...?)
Larga essa faca.
O sabe tudo sempre será o sabe tudo
O entendido continuará como entendido
O Ser humano ainda seguirá meio iludido!
E você...?
Escreva João Ninguém!
Aprenda,
Lute!
Envelheça!
Tenta, só mais uma vez,
Tenta...
Leva pra cova a vida que levou.
(Do livro "A Floresta Enigmática das Cerejas Mecânicas")